(A)njo
Estou preso a um mundo estranho.
Estranho mundo de tola liberdade.
Liberdade parcial, que engana, falsa;
Faz-me acreditar que sou livre, e prende.
Estou acorrentado a um mundo feio.
Mundo feio com suas guerras e dores.
Ainda assim, me dizem que é belo, lindo;
Querem que eu creia no que não acreditam.
Estou condenado a um futuro sujo.
Cheio de mentiras, ilusões, desgostos.
Uma sociedade a minha volta impõe;
De cada imposição tiram-me um pedaço.
Estou preso, condenado, acorrentado
Por coisas que desacredito, desconfio,
Que não quero pra mim, não quero ver.
Estou no cárcere, mas não num todo.
Sou consumido por um novo sonho.
Um olhar que não posso definir
Vêm de longe, com asas, até mim.
Verde, azul, sereno, devastador.
Sou carregado por um desejo.
Agarro-me ao corpo, fico envolto
Por asas olhares, bocas, mãos
Disso que não é sonho, mas anjo.
Sou seduzido por isso que liberta
Num mundo onde havia somente prisão;
Acalentado por curvas femininas
Que, se não acabam, aliviam a desilusão.