O poder de quem se põe a escrever é ilimitado. Pode uma página repousar no cesto de lixo logo após ser escrita; viver na mediocridade, relido algumas vezes, lida outras, nunca relembrado ou elogiado; mudar a vida de uns quantos que com o conteúdo dele estejam envolvidos, fazendo sua vida ir do paraíso ao inferno ou do inferno ao paraíso, nisso os testamentos se encaixam tão bem, assim como as cartas de amor ou as grandes revelações do passado; ou então, no resultado duma dessas raras efusões de uma consciência cósmica que as vezes tange a humanidade, ou de uma mente demasiadamente poderosa, se põe a influênciar e modificar todo um tempo, todo um povo. Este último tipo de escritos fazem com que a partir de sua concepção o ato de ser lido, e influenciar os que o lêem, possa gerar uma série tão infindável de acontecimentos que o mundo, mesmo no futuro mais distante, nunca seria o mesmo do que caso estes escritos nunca tivessem existido. Quem conduz bem a pena pela textura suave do papel sangrando-a com a tinta viscosa tem uma arma, um elixir de cura, uma oração, uma benção, um leque infinito de força sobre os homens, que pode modificar vidas tanto para melhor quanto pior. Aquele que tem algo pelo que clamar, reclamar, refletir ou instigar, e registrar isso escrevendo, ao contrário do que acontece com as palavras dispensadas ao povo - palavras registradas apenas pelos ouvidos do vento - põe a força de seu discurso a enfrentar face a face a crueldade do tempo, muitas vezes a luta não dura muito, mas vemos por aí várias derrotas do senhor dos momentos que perduram por mais de dois, três mil anos. Não é só o tempo que haverá de ser enfrentado por aquele que se põe a escrever, ele terá de lutar contra o mundo, contra os homens, a favor dos homens, mas principalmente terá de enfrentar a si mesmo na busca por uma mensagem. Não há palavra que perdure se nela não houver o poder de siginificar, não há nada que seja aclamado se não houver onde a mensagem toque. Os textos não sobrevivem ao desprezo humano, para tanto tem de ser grandiosos, e só grandes homens, ou os mais detestáveis que há, podem fazer suas idéias, mensagens, existencias, transpassar pelo tempo, por tantas outras vidas, alterando-as. Somente os homens que estão ou no auge da admiração, ou do desprezo, serão ouvidos ao longe, jamais os medianos.
2005/01/11
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