Coisas sobre Coisas

Coisas sobre coisas. Uma definição tosca para pensamentos que de elegantes e interessantes não têm nada, mas esforçam-se ser. Aliás, boa definição pra um site que tudo aceitará, comentários, histórias, poemas quem sabe, sobre coisas... coisas sobre coisas... lá vamos nós ver no que dá isso.

2005/05/19

Mistakes


Lembro de que na minha infância muitas vezes cometi falhas, erros, burrices, grocerias, gafes, micos e afins daqueles pelos quais me arrependi durante muito tempo, e não foram poucas vezes. Até hoje algumas dessas memórias doem ao serem lembradas, são uma fatia do meu passado que procuro esquecer, ficam delas apenas as lições pois nestes casos não aprender a lição é estar arriscado a ter mais dessas lembranças sujas que nos envergonhamos e geralmente passam por toda nossa vida escondidas.

Que eu me lembre, agora, existem duas grandes mancadas que eu dei no passado que foram muito dolorosas quando as cometi e que até hoje, agora mesmo, ainda é desagradável lembrar dos fatos. Certa vez, por exemplo, eu e um primo colocamos uma cobra coral morta que haviamos encontrado próximo a uma praia no vaso sanitário da casa de uma outra prima com o objetivo de dar um susto nela, contudo a vítima acabou sendo minha tia a qual tenho grande estima e respeito. Depois do susto, do desespero de encontrar uma cobra morta, venenosa, no vaso minha tia ficou muito mal, super assustada e logo veio o peso na consciência, todas as possibilidades, coisas que eram ridículas na brincadeira, só vieram a minha mente após a bomba ter explodido. Até hoje me envergonho muito do fato, mas assim como guardo muitas coisas sujas minha tia e sua família, como grandes amigos que me são, não revelaram nada a ninguém, nem mesmo a minha mãe. Depois do ocorrido ele jamais voltou a ser mencionado, neste caso, minha tia sabe exatamente da vergonha que ele me causa e achou melhor deixar a vergonha num canto bem escuro e sujo do passado.

Aquela não foi a última vez que cometi um grande erro que vai pra este tal canto escuro e sujo do passado. Outros aconteceram, outros virão, com certeza, assim como hoje me dei por um grande erro e fui arrebatado por uma grande vergonha dessas que nos fazem querer esconder a cara ao ver alguém. Agora é tarde para pedir desculpas, não estou em situação de faze-lo. Já não há como consertar a burrada, resta apenas a vergonha e a lição, o mais terrível em tudo que fiz foi saber que magoei pessoas que me tiveram grande estima. De certo modo fiz isso inocentemente, ao meu jeito, mas acabei magoando. Certamente hoje estão com ódio de mim, me praguejaram, prometeram não olhar mais em minha cara suja.

Que posso eu fazer? Agora é tarde, não me encontro em situação de pedir desculpa, não que isso seja desagradável demais para mim, mas o será para eles. Meu maior peso agora é ter fechado uma porta que antes me era aberta, ter perdido o respeito mui custosamente conquistado, é ter de jogar com a vergonha do erro os grandes dias de uma bela amizade que sempre será marcada pela minha falta cometida.

Eu? Tu! Nós...


Deus fechou os olhos, se esqueceu de mim aqui, nesta ilha, perdido, triste, solitário. Sem deus, mulheres ou amigos, o que será de mim? Apenas eu mesmo! Não mereço tal destino, tal fatalidade. Não penso que um papo comigo mesmo seja algo valido ou valioso, será tudo confusão, briga, horror... não quero ter de encarar-me. Eu sei muito a respeito de minhas verdades para que possa encara-lás sentadas nesta pedra diante de mim numa imagem espelhada por minha própria consciência. Uma imagem suja de sangue, suor, excessos e odores, minha imagem de mim mesmo. Prefiro a dor da morte mais cruel a ter de me enfrentar, sempre fugi de mim mesmo, encarar-me é trabalho demias, dor demais, conflito demais. Ow! Deus cruel que me põe diante de mim mesmo! Será esse meu maior purgatório, a companhia de alguém que desconheço? Sou apenas dois, não vários como defendeu uma vez o poeta, mas dois, um aqui, louco para fugir de si mesmo, e outro, seguindo-me em busca de minhas palavras, do desespero em minha face, da culpa em meus olhos por aquilo que ele cometeu! Sei que a boca suja falará do passado, das coisas que foram cometidas, dos segredos e desejos que tento guardar e reprimir, e ele, ao contrário, busca escancarrar, viver, gozar, ser mal, ser bom conforme sua vontade, sem ética, sem medo, sem pudores.
Ouço sua voz me falando dos crimes, das várias mortes, das paixões femininas que entraram no profundo poço da depressão, das meninas virgens agora sem sua honra, dos amigos traídos, dos inimigos arrasados pelo poder e pela força do bastão, das corrupções na igreja, do pai louco, da mãe suicida. Ele geme aos meus ouvidos, canta cada uma das suas maldades, sua face sorri, gargalha diante de meu desespero, pede para que eu me aceite, que eu o aceite! Tenta me mostrar como somos um só, inseparáveis, não polo norte e polo sul, não yin-yang, mas uma massa única, farinha misturada ao trigo, carne e osso, dois distintos mas inseparáveis - um complementando o outro. Não como um médico nas frias tardes londrinas e um monstro a assassinar pelas noites. Não dois, mas um único ser em atitude, com uma consciência imposta, a que quer o bem, e outra livre, que quer apenas estravazar a si mesma a cada momento! Ouço sua voz pedindo para que eu me aceite, para que o aceite, para que nos aceite.
Oh, Meu Deus! Que tortuoso castigo fazes a mim, pôr-me só nesta ilha! Onde estão as jovens meninas para que eu corrompa, ou o poder para eu abusar?! Onde?!

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