Coisas sobre Coisas

Coisas sobre coisas. Uma definição tosca para pensamentos que de elegantes e interessantes não têm nada, mas esforçam-se ser. Aliás, boa definição pra um site que tudo aceitará, comentários, histórias, poemas quem sabe, sobre coisas... coisas sobre coisas... lá vamos nós ver no que dá isso.

2005/11/03

Citações - Manual de Pintura e Caligrafia

Bom... como não ando me considerando, e os outros também, um bom "blogger" - já que de escritor eu creio não ter gabarito pra me autodenominar - vão aqui alguns trechos de alguém cuja genialidade não pode ser colocada em questão, Saramago. Ando fascinado pelo Manual de Pintura e Caligrafia, li três vezes esse ano. Gosto muito da forma descompromissada com que o romance vai se desenrolando, gosto dos questionamentos, dos raciocínios de Saramago, gosto da pintura e também das viagens à Itália. Vão aqui os trechos:

"Sempre fico espantado diante da liberdade das mulheres. Olhamo-las como seres subalternos, divertimo-nos com as suas futilidades, troçamos quando são desastradas, e cada uma delas é capaz de subitamente nos surpreender, pondo diante de nós extensíssimas campinas de liberdade, como se no rebaixo de sua servidão, de uma obediência que a si mesma parece buscar-se, levantassem as muralhas de uma independência agreste e sem limites. Diante desses muros, nós, que tudo julgávamos saber do ser menor que viemos domesticando ou achámos domesticado, ficamos de braços caídos, inábeis e assustados: o cãozinho de regaço que com tanta boa vontade se rebolava no chão, de costas, mostrando o ventre, põe-se de pé num salto, com os membros trémulos de ira, e os seus olhos são de repente alheios a nós, e fundos, vagos, ironicamente indiferentes. Quando os poetas românticos diziam (ou dizem ainda) que a mulher é uma esfinge, acertam, abençoados sejam. A mulher é a esfinge que teve de ser porque o homem se arrogou do senhorio, da ciência, do tudo saber, do poder tudo. Mas é tanta a fatuidade do homem, que à mulher bastou levantar em silêncio os muros da sua recusa final, para que ele, deitado à sombra, como se deitado estivesse sobe uma penumbra de pálpebras obedientes, pudesse dizer, convicto: 'Não há nada para além destas paredes.'"

"Digo coisas que todos dizem, mas este feltro pisado e repisado que é a cultura, que é a ideologia, que é também isso a que chamamos civilização, compõe-se de mil e um pequenos estilhaços, que são heranças, vozes, superstições que foram e assim permanecem, convicções que esse nome se dão e tanto lhes basta."

"Não serei capaz de ir mais longe, por enquanto, mas o sinal dessa incapacidade, o risco de unha que o marca, é já o primeiro passo, ainda que outros não continuem: o que distingue o passo único de um primeiro passo é apenas a paciência que houve, ou não houve, para esperar o segundo."

"As vontades juntas dos habitantes formam, sem que eles se apercebam, uma vontade diferente que passa a governá-los e que cuidadosamente os vigia."

"Nascer, viver, morrer são verdades universais e sequência natural. Se quisermos transformá-las em verdade pessoal e em sequência cultural, teremos de escrever muito mais do que os três verbos por aquela ordem dispostos, e admitir que, entre os dois extremos de nada e nada, o viver possa conter alguns nascimentos e mortes, não apenas alheios que de algum modo nos toquem ou firam, mas outros nossos"

2 Comments:

At 2:12 AM, Anonymous Anônimo said...

oi moço, finalmente axei teu blog, eu havia perdido akele papelzinho...gostei das citações do Saramago, me deu vontade de ler o livro...vai ver c tua ajuda e incentivo começo a gostar dele...se cuida tá...bom site...gostei de seus textos...beijão

 
At 2:13 PM, Anonymous Anônimo said...

OiI =p

Me empolguei e comecei a ler ensaio sobre a cegueira de saramago tb.. =)

Bjus minino!

 

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